Da Emoção das Coisas




Dione Veiga Vieira_2013

DA EMOÇÃO DAS COISAS


Podemos ver através dos vidros das basculantes da Sala de Formas, junto ao Instituto de Artes da UFRGS, o verde das folhas das árvores que se agitam ao vento e, ocasionalmente, as revoadas dos sabiás. Uma agradável vista da área externa à sala, que nos faz esquecer por alguns momentos que estamos no burburinho do centro da cidade. Não há escada que possibilite o acesso ao pátio que abriga tal paisagem. Apenas uma sacada lateral de 2m x 1m, aproximadamente, anexa à porta da sala, que permite apreciá-lo de cima, com suas árvores que nascem inusitadamente de um muro. Maria Ivone dos Santos conta que, mesmo com esse acesso restrito, alguns estudantes sempre dão um jeito de descer por uma escada de madeira; costumam ficar ali sozinhos, recolhidos em seus pensamentos. Isso sugere que o lugar funciona como um refúgio perfeito, que exige, antes de tudo, leveza e coragem – qualidades necessárias para a realização de tal escalada. Um lugar que, por suas características físicas, propicia um saudável isolamento junto à natureza. Certamente, um ambiente propício para o surgimento de ideias e projetos. Ou ainda, um espaço que possibilita uma pausa para refletir sobre a emoção das coisas vividas.


O que esse espaço ainda pode simbolizar? No que ainda poderá se transformar? Por todos os instigantes pensamentos que esse espaço suscita, eu o escolhi para minha intervenção que, por alguns dias, ousará aproximar-se do cotidiano daqueles que passam por ali, a Sala de Formas. Primeiramente, pensei em estender uma rede que ocupasse quase toda a extensão do pátio, sob a árvore. E que, assim, pudesse ficar presa no muro e paredes do prédio, por suas bordas de contorno oval e forma levemente côncava. Imaginei que, com o passar dos dias, a rede se encheria das folhas do outono, e pareceria uma grande cesta de coleta de resíduos naturais, deixando a parte inferior do pátio com mais sombra e silêncio, aumentando a sua sensação de refúgio. 

Mas logo constatei que seria impossível a montagem dessa intervenção, devido à inacessibilidade ao espaço e à fragilidade do muro. Além disso, presumi o perigo de algum pássaro prender-se na malha da rede com tamanha extensão. Somente depois de algum tempo, ao manusear essa rede de pesca, tive a ideia de transformá-la em um objeto que pudesse trazer alguns desafios à imaginação e ao plano sensorial daqueles que ousarem acessar o refúgio do pátio. Ou daqueles que, simplesmente, olharem para esse lado externo da sala, através das janelas.
Com 2,40 m de altura e uma abertura superior com 30 cm de circunferência, o objeto propicia o acúmulo de folhas. Portanto, esse continua com a função do primeiro projeto; no entanto, agora, sem aqueles presumíveis riscos. Em seu formato final, não acrescenta mais sombra e silêncio ao ambiente. Ao contrário: abre mais um feixe vertical de luz através da malha transparente e fina que pende da árvore até ao chão do pátio. Uma esfera de vidro cristalino, parecendo matéria líquida que passou por solidificação, descansa em sua base.

Dione Veiga Vieira / maio 2013

Dione Veiga/2013


DA EMOÇÃO DAS COISAS - Intervenção 
 Dione Veiga Vieira
Programa Espaço de Montagem - Perdidos no Espaço 

Local: SALA DE FORMAS - Escultura - Instituto de Artes - UFRGS
Rua Senhor dos Passos, 248 - Porto Alegre/RS - Tel.: (51) 33084330 
                    

 Mais informações: http://www.ufrgs.br/escultura/